domingo, 4 de novembro de 2012

Neoliberalismo* a Grande Ofensiva do Imperialismo

A burguesia imperialista, após o desmoronamento do campo socialista do Leste Europeu e da URSS, repete bilhões de vezes que “o comunismo morreu”, que “o valor da democracia é universal” e que é chegado “o fim da história”. Utiliza-se da crise conjuntural que abateu-se sobre o Movimento Comunista Internacional para impor, como verdade absoluta e sem apelo, o seu mundo unipolar e globalmente hegemonizado pelos Estados Unidos. Com isto, pretende escamotear e fugir às violentas manifestações da crise geral e estrutural do sistema capitalista e reordenar o seu domínio, de opressão e exploração de classe sobre o proletariado e as massas miserabilizadas no mundo.

A estratégia da contra-revolução no front ideológico segue à risca o teorema do secretário de imprensa do partido nazista, Josef Goebbels1: “repita uma mentira mil vezes até que ela se torna uma verdade”. Aproveita-se da desestruturação das forças do comunismo no mundo para, através de seu falacioso discurso neoliberal, de “modernização” e “livre mercado”, avançar no front econômico, por um lado, eliminando as conquistas sociais e históricas da classe operária e massas oprimidas, por outro, devastando as bases estratégicas para independência dos estados nacionais (econômicas, políticas, militares e ideológicas) tornando-os mínimos frente aos monopólios imperialistas. Nofront político, apoiada no seu poderio bélico, financeiro e de comunicação, rompe unilateralmente o pacto em torno do “Estado do Bem-Estar Social” com a aristocracia operária, as castas militares, os burocratas, intelectuais e os setores nacionalistas de sua classe, iniciado em 1914 e oficialmente celebrado, na Conferência de Bretton Woods, em 1944.2
A burguesia já há mais de um século não consegue esconder sua condição reacionária de existência. Assemelha-se a um velho feiticeiro que, não podendo mais controlar as potências que despertou com os seus truques e palavras mágicas, invoca em auxílio seus aprendizes da escola de Chicago, que pensam terem inventado uma“nova fórmula mágica” para salvar o capitalismo: o“neoliberalismo”. Os aprendizes de feiticeiro não sabem que são vítimas do seu próprio ilusionismo, pois, ao condenarem à morte o“Estado do Bem-Estar Social”, fecham a única janela do sistema por onde a burguesia conseguiu fugir às primeiras manifestações da crise geral do capitalismo, decorrentes da passagem da livre concorrência ao estágio do monopólio e da exportação de capitais, a fase imperialista —a corrida colonial e neocolonial, a crise de hegemonia que levou a I Guerra Mundial (1914 a 1917), ocrack financeiro de 1929 e a II Guerra Mundial (1939 a 1944)—e reteve a marcha da classe operária no mundo, particularmente no velho continente europeu, para o comunismo nascente.
A teoria de John M. Keynes3condensou todo o processo de luta da burguesia contra as crises cíclicas do capital. Modificou o caráter e o papel do Estado burguês, de mero comitê gerenciador dos negócios da burguesia para o de comitê planejador da produção social e de produtor da demanda efetiva, através da intervenção do Estado na produção —em ramos estratégicos da economia— para, por um lado, amenizar as contradições derivadas da anarquia da produção, já que em escala monopolista leva necessariamente à guerra de rapina neocolonial e, por outro, atenuar as contradições decorrentes da Lei Geral da Acumulação Capitalista, na medida em que a acumulação e centralização do capital e renda em um pólo (a burguesia) gera, em razão inversamente proporcional, um outro pólo (o proletariado), onde se concentra o desemprego, o pauperismo e a fome (o fenômeno da superpopulação relativa), impedindo que a demanda solvente se desenvolva na mesma proporção da produtividade social, logo, gerando as crises de superprodução, a guerra civil e barbárie social.
A migração dos capitais financeiros da Europa para os EUA, no curso de duas grandes guerras mundiais, que se efetuavam sob o paradigma de Carl Von Clausewitz4—“a guerra como um instrumento nacional, racional e política por outros meios”— gestou as condições subjetivas para o pacto entre as classes sociais em torno dos objetivos e esforços de guerra. Isto consolidou a hegemonia da burguesia norte-americana sobre o conjunto da classe, tornando-a centro da contra-revolução mundial. A fase imperialista, segundo V. Ilich Lenine5, se desenvolve sob as condições da acumulação monopolista e do parasitismo financeiro, multiplica o poder de corrupção da burguesia sobre as massas pauperizadas e aprofunda as diferenciações entre as classes e dentro de uma mesma classe social. Portanto, paralelamente à formação de uma oligarquia financeira no interior da burguesia, forma-se também, no interior da classe operária, um setor aristocrático (aburguesado), que torna-se um instrumento do domínio de classe da burguesia sobre o conjunto das massas trabalhadoras e a base fundamental para o pacto entre as classes sociais sobre as quais ergue-se o “Estado do Bem-Estar Social”.
A contra-revolução burguesa, a partir dos EUA, antes mesmo do término da II Guerra Mundial e ainda sob o impacto da grande crise de 1929, já esboçava sua reação no esforço de guerra da frente ocidental. Esta ação dividiu a heróica vitória da URSS sobre as forças principais do nazi-fascismo em todo o velho continente europeu. Logo após, sob o simulacro da “Guerra Fria”, apoiada no poder militar, no capital financeiro e na aristocracia operária, promove a reestruturação do sistema capitalista mundial. Primeiramente, direciona a maioria dos seus capitais para o continente europeu, onde a ameaça comunista se tornava mais iminente. Nos países sob seu domínio colonial ou neocolonial, especialmente na América Latina, Ásia e África, aprofundou a superexploração imperialista para sustentar sua estratégia de reação; onde não conseguiu pacificamente o alinhamento à sua nova ordem mundial, dos setores de sua própria classe e das classes exploradas, aliou-se às oligarquias rurais ou setores mais reacionários das classes dominantes locais, financiando golpes, ditaduras militares e oligárquicas; onde ocorreu este alinhamento, estabeleceu-se um curto período de democracia burguesa e de relativo desenvolvimento econômico, sob as condições da parceria ou do convívio entre o capital imperialista e os capitais nacionais, permitindo o avanço do setor da burguesia nacional que floresceu, com base no processo de substituição de importações, no período das duas Grandes Guerras.
A rápida recuperação da Europa e do Japão permitiu que a burguesia financeira norte-americana redirecionasse sua exportação de capitais para as regiões, que inicialmente havia deixado em segundo plano, particularmente aquelas em que conjunturas continentais ou nacionais abriam espaço para o avanço gradual da revolução proletária mundial: na Ásia (China, em 1949 e Vietnã, em 1947); na América Latina (Bolívia e Brasil em 1954, Cuba, em 1953 - 1959) e; na África (Argélia e Angola, em 1962). E neste contexto, os monopólios europeus e japoneses avançaram e, sob as novas circunstâncias da “Guerra Fria” —a corrida tecnológica, aeroespacial e bélica— entre os EUA e a URSS, remontaram às contradições interimperialistas em torno da reconversão da tecnologia de guerra para a produção social e consumo. Este processo acelera o ritmo da recomposição tecnológica do aparelho produtivo capitalista, altera a composição orgânica do capital global e desencadeia uma nova crise do capital, que atinge em cheio o centro da contra-revolução burguesa mundial, os EUA.
As guerras pelo controle das reservas de petróleo dos povos árabes, no Oriente Médio (Argélia e Iraque, em 1971, 4ª Guerra Árabe-Israelense, em 1972) e a crise energética, em 1973, agravam ainda mais o déficit do balanço de pagamentos global dos EUA , já de 10 bilhões de dólares, em 1971. A posição unilateral de desvalorizar o dólar e quebrar sua paridade com o ouro, em 15 de agosto de 1971, rompe com as regras do Sistema Financeiro Internacional, elevando astronomicamente as taxas de juros (Prime Rate e Libor) para atrair os petrodólares que financiam o seu déficit crescente. Esta manobra inverte o fluxo de capitais, que passam a fluir das periferias para o centro; paralelamente, aumenta escabrosamente as dívidas externas dos países do Terceiro Mundo6, hoje em torno de 1,5 trilhão de dólares, exacerba o fenômeno das trocas desiguais, levando a economia mundial a novo período de depressão e de profunda instabilidade financeira, social e política. Assim, cristaliza-se o esgotamento do modelo de Estado keynesiano e da nova ordem mundial, fixados em Bretton Woods, gestando-se as bases para as teses do Neoliberalismo.
A política neoliberal acelerou a internacionalização da revolução científico-técnica7, desenvolvida no decurso da Guerra Fria e da corrida aeroespacial, que o Estado keynesiano preparou. As novas tecnologias e métodos flexíveis de trabalho introduzidos ao processo de produção elevaram prodigiosamente a capacidade produtiva social e o ritmo de recomposição do aparelho produtivo capitalista. A existência atual de 35 mil Empresas Transnacionais (ETN), com mais de 150 mil filiais espalhadas por todos os países, configura o novo perfil da grande empresa capitalista8. Elas são a infantaria ligeira do capital e desempenham o mesmo papel que a grande indústria têxtil desempenhou para a revolução industrial na Inglaterra (1765-1795). Seus novos métodos“flexíveis” de exploração da mais valia (Just-in-time eKanban), ao integrarem a microeletrônica, a robótica e a telemática ao planejamento, gerenciamento e qualidade do processo de produção, pelos sistemas CAD (computação em auxílio ao projeto), CAM (computação em auxílio a manufatura) e CIM (computação integrando a manufatura), potencializaram, à escala planetária, as forças produtivas (força de trabalho e meios de produção), ultrapassando a “linha de montagem” Fordista e Taylorista. Sua direção empresarial, com base no Jet SetTelemático (elite orgânica - apoiada em centro de P&D)9, constitui-se no Estado-Maior da ETN paralelo e superior aos Estados Nacionais, dado o caráter multinacional de suas ações e estratégias para o financiamento, produção e realização de megaprodu-ções. As ETN’s, para funcionarem minimamente, exigem cada vez mais novas e superiores relações sociais de produção, o processo de globalização da economia e a nova corrida neocolonial pela formação de blocos continentais —Europa Unificada, NAFTA,“Tigres Asiáticos” e MERCOSUL— que alteram o caráter do Estado burguês para o de multinacional, complementar e relativamente integrado ao nível continental e com aspirações hegemônicas globais.
Esta nova ofensiva do capital não logrou estabelecer um novo patamar das relações sociais de produção, ou mesmo reestruturar as relações econômicas, sociais, políticas, ideológicas e militares do capitalismo já em franca contradição com o desenvolvimento das forças produtivas. Por um lado porque, embora tenha levado à desestruturação da URSS, não derrotou totalmente o Socialismo enquanto sistema social, como demonstra concretamente a existência da China, Vietnã, Coréia do Norte e Cuba, que desempenham papel destacado na resistência e luta contra o imperialismo e na defesa do Socialismo. Além disto, existem outros países que reivindicam a opção socialista. Por outro lado porque a nova corrida neocolonial pela formação de blocos econômicos, com alianças e coalizões flutuantes continentais, aprofunda as contradições interiimperialistas, gestando as condições objetivas e subjetivas para unir o poder dos monopólios europeus e asiáticos (Alemanha e Japão) com o poder bélico dos países ex-socialistas (Rússia, Ucrânia, Bielorússia, etc...), indicando a tendência a uma brusca passagem da luta pela hegemonia mundial do plano econômico-tecnológico, para o plano político-militar, como demonstra a tentativa da Europa Unificada em criar uma Aliança Militar independente da OTAN e o recrudescimento dos conflitos bélicos na Europa do Leste, Oriente Médio, Ásia e África, neste período.10
Deste modo, a burguesia monopolista norte-americana é compelida a manter toda a superestrutura formalizada a partir da Conferência de Bretton Woods, vertebrada pelo capital financeiro norte-americano, e o dólar como moeda-padrão das trocas internacionais. O FMI, Banco Mundial, BIRD, OIT, GATT, ONU, OTAN... são instituições que mantêm a hegemonia estadunidense e já não regulam, mas emperram o desenvolvimento mundial, agravando a rebelião das forças produtivas contra as relações sociais de produção e, sobretudo, a contradição entre o capital e trabalho. A formação do G-7, a Rodada Uruguaia do GATT e o conspícuo Conselho de Segurança da ONU, Fundos de Pensão e outros são artifícios, como os programas (Planos) de reestruturação das economias dos países sob o seu domínio imperialista, que dão fôlego efêmero ao sistema, mas não solucionam a crise que se aprofunda.11
A falência do México, que seguia todo receituário neoliberal ministrado pelo FMI, revelou abertamente o brutal descolamento do sistema financeiro mundial de sua base produtiva e, conseqüentemente, a crise de realização e superprodução resultante da alteração da composição orgânica do capital, visível na desproporção entre os departamentos I (meios de produção) e II (bens de consumo) da economia mundial. Além disto, a extraordinária concentração e polarização de capitais no setor financeiro especulativo e no emprego de novas tecnologias (capital constante), em detrimento do capital variável, isto é, da massa de salários que compõe a demanda solvente (consumo produtivo e individual), prolongou o tempo de rotação do capital global, aprofundou a tendência decrescente da taxa de lucro e ampliou, extraordinariamente, o exército industrial de reserva, particularmente na sua forma estagnada (o desemprego estrutural)12. A inflação monetária tem levado à crescente guerra comercial e industrial, à anarquia da produção e aos riscos de um novo crackdo sistema financeiro internacional, enfim, o retorno da sociedade a um estágio de barbárie social.
A contra-revolução, diante da contínua manifestação da crise geral do capitalismo, retoma o front, em uma guerra sem quartéis e definitiva contra o comunismo para tentar conter a emergente rebelião das forças produtivas que se faz visível no cenário político internacional. Para isto despeja bilhões de dólares no financiamento de grupos terroristas, esquadrões da morte, ditaduras oligárquicas e seitas eletrônicas; desestrutura governos socialistas; assassina e mutila milhões de seres humanos, tentando frear a História e impor ao mundo a sua imagem e semelhança. A burguesia fez ressurgir, em todo o mundo capitalista, o fantasma do neonazismo e do fascismo; proclamou sua revolução científico-técnica como principal sistema dinâmico e motor da História em substituição à luta de classe, e tenta inculcar, através de sua mídia, uma lógica de barbárie social, onde banhos de sangue como os que ocorreram na guerra do Golfo (1992), Iugoslávia,Tchecoslováquia e toda a região dos Balcãs apresentem-se aos olhos da humanidade como um simples jogo de vídeo-game e novo fetiche para o homem, o da desideologização da técnica, o “fim da História”.
Mas a burguesia, com a sua contra-revolução, somente acelera ainda mais o seu fim. Por um lado, porque a atual situação de unipolaridade mundial e hegemonismo norte-americano impulsiona a sua crise de hegemonia, tornando-se uma ameaça para toda a humanidade, uma vez que agrava perigosamente as contradições da tríade (EUA, CEE e Japão), aprofundando os riscos de uma terceira guerra mundial. Por outro, porque a política neoliberal transfere a crise dos centros imperialistas e os seus custos para os países do Terceiro Mundo, fazendo crescer a luta dos povos explorados contra o imperialismo. Por último, porque, mesmo que se consolide um novo reordenamento mundial, com base na multipolaridade e no modelo neokeynesiano da Europa e Japão, não poderá deter a emergente situação de crise revolucionária mundial, pois a manifestação da crise geral nestes países e continentes indica agudização da contradição entre o capital e o trabalho (burguesia versusproletariado), refletida no agravamento da fome, miséria, desemprego e na escalada de conflitos bélicos, étnicos e raciais13. A contra-revolução burguesa não somente produz as condições mas, sobretudo, impulsiona aqueles que manejarão as armas criadas pelo próprio capital —o proletariado e massas exploradas— a se reerguerem como classe, portanto em partido político, fazendo avançar outra vez a Revolução Proletária Mundial.
Este movimento do capital trata-se da manifestação da “ Lei Geral da Acumulação Capitalista”, enunciada por Marx14, em “O Capital”, que pode ser observada na concentração de renda dos 20% mais ricos países do mundo que saltou, em 30 anos (de 1960 a 1990), de 30% para 60% em relação aos 20% mais pobres; no paroxismo de uma massa monetária em torno de U$ 13 trilhões, dos quais U$ 1,5 trilhão corresponde às dívidas externas que circulam nas bolsas de valores do mundo, refletindo a constituição, no interior da classe burguesa, de uma poderosíssima oligarquia financeira internacional, em contradição diametralmente oposta à classe proletária, onde é crescente a massa de miseráveis, já em torno de 1,3 bilhão e no número de desempregados e subempregados que dobrou nos últimos cinco anos, passando de 480 para 820 milhões de trabalhadores; na fome de mais de 500 milhões de seres; no analfabetismo de 1 bilhão, com 300 milhões de crianças sem acesso à escola; e na mortalidade infantil de 115 para cada 1000 nascidos vivos, sendo que, dos sobreviventes, 14 milhões morrem anualmente antes de completar 5 anos de idade.15
O proletariado, a classe dos operários modernos, já não é produto somente do desenvolvimento do capital, mas também do seu caráter de classe revolucionária, que se firmou no decurso desta época de passagem do capitalismo para o socialismo e de profundas modificações no sistema imperialista. Com a Revolução Proletária de 1917, na Rússia, superou a grande divisão criada em suas fileiras pela aristocracia operária (a traição da II Internacional, em 1914), tornando-se uma força material concreta em expansão. O caráter revolucionário e libertador da URSS, na II Grande Guerra Mundial, constituiu o campo socialista do Leste Europeu, e elevou a luta do proletariado a um plano superior: entre sistemas sociais (socialismo versus capitalismo) pela hegemonia mundial. Com isto, impulsionou as lutas de libertação do jugo colonial e neocolonial dos povos da África, Ásia e América Latina, mudando a face política mundial, e influenciou decisivamente para que o proletariado nos países centrais do imperialismo, mesmo sob a direção da aristocracia operária (ou sindicalismo amarelo), arrancasse conquistas trabalhistas e sociais importantes.
O proletariado continua a ser recrutado em todas as camadas sociais. Cresceu de forma absoluta, a um ritmo de 43 milhões de trabalhadores anualmente (índice de 1992)16, gerando uma superpopulação relativa (Exército Industrial de Reserva) em proporções gigantescas. Em 1992, já representava cerca de 45% da população mundial, com 13% na agricultura, 31% na indústria e 56% no setor de serviços; concentra-se basicamente nas grandes cidades, com mais de um milhão de habitantes, e representa cerca de 41% da população urbana mundial. A redução dos salários reais, pela constante renovação tecnológica, tem incorporado novos contingentes ao processo de produção, como as mulheres, cuja presença era reduzida, e cresceu para mais de 40% sua participação. O avanço capitalista na agricultura incorporou vastas camadas campesinas ao trabalho assalariado; fez crescer o fenômeno migratório dos países subdesenvolvidos para os desenvolvidos e, entre estes, de um ramo para outro da produção. A privatização de setores de serviços (Educação, Saúde, Transporte, Telecomunicações, etc) transforma o caráter desta atividade, tornando este contingente de trabalhadores, produtores diretos de mais-valia. Paralelamente a todo este processo, cresceu o fenômeno da economia informal, uma forma contemporânea de acumulação primitiva de capital, que absorve cerca de 32% da força de trabalho na América Latina, 60 % da África e se alastra por todo o Leste Europeu, utilizando-se tanto dos meios mais avançados (informática), quanto dos mais arcaicos (monocultura, artesanato etc...), no campo e na cidade.17
As novas tecnologias introduzidas conduziram à rápida substituição do comando pessoal e hierárquico (diretores, gerentes, mestres, contramestres...) do processo de produção por redes informatizadas, que chegam a qualquer ponto do planeta, a partir do JET SETTELEMÁTICO e dos novos métodos flexíveis de trabalho, acentuando tendências históricas do desenvolvimento capitalista18: a substituição do homem pela máquina; o homem como apêndice da máquina; o caráter enfadonho do trabalho, que se reduz às operações mais simples; o trabalho do homem suplantado pelo da mulher e das crianças; a competição entre os trabalhadores, acentuada com a formação de uma aristocracia operária. O caráter transnacional da produção, circulação e realização da mais-valia tornou o proletariado uma força internacionalizada, já não mais pelo capital em geral, mas pelo capital específico de uma ETN. O nível de escolaridade cresceu, mas a abrangência deste conhecimento reduziu-se a pontos específicos da ciência e da técnica. Os modernos centros de P&D (pesquisa e desenvolvimento) das ETN’s transformaram o cientista, o pesquisador e PHD em escravos assalariados produtores de mais valia; alteraram o perfil da classe operária tradicional e aprofundaram a diferenciação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. Desenvolveram novas categorias profissionais, particularmente a dos tecnólogos, que passam a ocupar o lugar da antiga aristocracia operária, que se vê compelida à luta anticapitalista. Além disto, atribuiu caráter estratégico a antigas atividades no modo de produção capitalista, particularmente na agricultura, acentuando o papel de vanguarda da classe operária tanto nos centros imperialistas, como nas periferias.
A desestruturação parcial das forças do comunismo, a partir do desaparecimento do campo socialista do Leste Europeu e da URSS, colocou a classe operária na defensiva e levou a contra-revolução burguesa a intensificar sua grande ofensiva neoliberal. Esta nova conjuntura, de desarticulação internacional da organização subjetiva do proletariado, tem dificultado suas conquistas puramente nacionais, na medida em que o processo de globalização da economia e de redução do Estado acentuou o caráter internacionalista da classe operária e suas lutas. A burguesia tenta manter o seu pacto subjetivo com a aristocracia operária criando mecanismos de cooptação destes setores pelo mercado, em substituição ao Estado, tais como: a negociação de índices de produtividade (envolvimento negociado, com base no kalmarianismo) e os “modernos Fundos de Pensão”, que associam a sorte dos aposentados e pensionistas ao mercado de capitais.19
Mas a rebelião das forças produtivas materiais já se manifesta abertamente no ressurgimento da luta armada e guerrilheira do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), no México, alimentando a chama no Peru, Equador, na Bolívia com a Greve Geral da classe operária , gerando uma crise política nacional, e na Colômbia, onde as FARC já controlam quase 50% do território nacional, inspiradas na Resistência Cubana. Na Europa, a classe operária voltou a se manifestar na Itália, Espanha, França e Grécia, inspirada na resistência dos comunistas à contra-revolução no Leste Europeu e na ex-URSS. Na Coréia do Sul, a luta já é franca e aberta nas vias e praças públicas. Na África, a vitória do CNA levou à derrota o regime de opressão e de Apartheidracial e social, reabrindo a esperança do continente para o socialismo.
A crise do capitalismo é de caráter estrutural, permanente e insolúvel, pois resulta da contradição fundamental do sistema entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção, que se manifesta através do caráter socializado da produção em contradição à apropriação privada capitalista, reafirmando a essência e o conteúdo da época histórica em curso como de passagem do capitalismo ao socialismo e da classe operária, do papel de classe dominada, em classe dominante; encerrando, definitivamente, o período histórico do capitalismo e iniciando o período histórico do comunismo.
Neste contexto, a nova ordem mundial, que se reestrutura centrada na unificação continental (Europa Unificada, NAFTA, etc...), com a formação de macromercados, estados transnacionais, competição entre blocos econômicos e a emulação científico-técnica, prepara todas as condições objetivas e subjetivas para a passagem ao socialismo, no âmbito dos espaços geopolíticos continentais —uma fogueira, a historicamente propugnada Revolução Proletária Mundial— determinando novas características na luta do proletariado internacional:
a) do caráter estrutural, permanente e insolúvel da crise nos marcos do próprio sistema, cuja base e dinâmica derivam da contradição principal entre a apropriação privada e produção social (capital versus trabalho), decorre a determinação inexorável do Comunismo como objetivo geral e estratégico das lutas proletárias, na atualidade;
b) da intensiva privatização dos setores estatais estratégicos, que destrói as ilusões de uma via pacífica para o socialismo, e da utilização incontrolável dos meios bélicos e bacteriológicos (a guerra de baixa, média e alta intensidade), pela classe capitalista internacional, para “vencer” as crises cíclicas do sistema, decorre como determinação inexorável o papel revolucionário da violência na história, como parte integrante e inalienável da luta revolucionária pela autodeterminação e paz mundial;
c) do atual estágio de desenvolvimento, contradição e crise do sistema imperialista entre as forças produtivas materiais —que se realizam integral, complementar e internacionalmente— e as relações sociais de produção, que mesmo diante da mídia eletrônica, é incapaz de responder às exigências e necessidades históricas de novas e superiores relações sociais ao nível global, interdependente e socializado, decorre como determinação essencial e imprescindível à estratégia das lutas proletárias, o caráter internacional.
Em síntese, a concentração de todas as forças do proletariado em uma luta revolucionária internacional pelo socialismo, como único caminho para a autodeterminação e a paz entre os povos.
Notas
(*) Doutrina político-econômica que pretende adaptar as idéias do liberalismo clássico as condições do capitalismo contemporâneo (imperialismo). Estruturou-se no final da década de 30, com base nas obras de Walter Lippmann, Jacques Rueffe, Maurice Allair (...), nos anos 50 concentra-se na Universidade de Chicago, nos anos 60 e 70 ganha espaço em alternativa ao Keynesianismo, e fica famosa com a polêmica em torno do assessoramento pessoal de Milton Friedman a Ditadura do General Pinochet, no Chile. Em 1976, o livro “Capitalismo de Liberdade”, de Friedman, é premiado com o Nobel, e nos anos 80 e 90 passa a predominar, como principal orientador do Imperialismo; seus principais expoentes hoje são Peter Drucker, Michel Porter, Keiniche Ohmae, John Naibits e outros considerados adeptos da “Escola de Chicago”. No Brasil, a versão anedótica dos que defendem esta doutrina (atualmente no governo FHC) são os “Chicago boys”. Ver também “Neoliberalismo” e “Escola de Chicago”. In: Dicionário de Economia. S.Paulo, Abril Cultural, 1985. pp. 130-131, 147-148 e 297-298.
(1) SODRÉ, N. W. História da História Nova. 2ª ed. Petrópolis, Ed.Vozes, 1987. p. 22.
____________. “Autópsia do Neoliberalismo”. Jornal Hora do Povo, São Paulo, Caderno Especial, de 3 de fevereiro de 1994.
(2) HOLLAND, S. Revendo Breton Woods. Política e Administração, Rio de Janeiro, 2(4): 4-19,1994. OHMAE, K. O Mundo Sem Fronteiras. Ed. Makron Books. pp. 11 e 15. DRUCKER, P. As Novas Realidades. S.Paulo, Ed. Pioneira.1989, pp. 35, 49, 63 e 95.
(3) KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, Juro e da Moeda - Inflação e deflação. S.Paulo, Nova Cultural, 1985. pp. 29-217.
(4) CLAUSEWITZ, C. V. Da Guerra. S. Paulo, Liv. Martins Fontes Ed, 1979. pp. 8, 87-90 e 737-775.
(5) LENINE, V.I. “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”. In: Obras Escolhidas. Tomo 1. Lisboa / Moscou, Ed. Avante / Ed. Progresso, 1977. pp. 619, 641-642 e 653-655.
(6) RUZ, Fidel Castro. A Dívida Externa. Porto Alegre, L&PM Editores, 1986.
(7) SANTOS, T. Revolução Científico-técnica e Capitalismo Contemporâneo. Petrópolis, Ed.Vozes, 1983. pp. 33-34 e 116.
(8) CAPUTO, O. Economia Mundial e Economia Chilena. Política e Administração, Rio de Janeiro, 2 (4): 42-43, 1994.
(9) DREIFUSS, R. As Transformações Globais: uma visão do Hemisfério Sul. PACS, Rio de Janeiro, 1991. pp. 26-29.
(10) VALLADÃO, A. G. A. Ordem Mundial: A “Estratégia da Lagosta”. In: O Mundo Hoje/ 1993 - Anuário Econômico e Geopolítico Mundial. 2ª ed., S.Paulo, Ed. Ensaio, 1993. pp. 22-25.
(11) RUZ, F.Castro. Mensaje à ECO-92. Republica de Cuba. Rio de Janeiro, 1992. pp. 40-42.
(12) OPPL. Teses ao I Encontro Nacional da OPPL. Jornal Inverta, Rio de Janeiro, edição especial, 1993. pp. 2-4. KENNEDY, P. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1989. pp. 487-513.
(13) ONU. Recolhendo os Dividendos da Paz. In: Relatório do Desenvolvimento Humano. New York, ONU, 1994.
(14) MARX, K. O Capital. Livro I, vol.II, Cap. 23. S.Paulo, Ed. Nova Cultural, 1985. pp. 187-259.
(15) RUZ, F.Castro. ob cit. pp. 10-15.
(16) OIT. El Trabajo en el Mundo 1994. Informe de Prensa, Genebra,1994 . International Labour Office/ Bureau International du Travail. Labour Force Main-d’oeuvré, genebra, 1994.
(17) Ver El Trabajo en el Mundo 1994. ob cit e Labour Force Main-d’ouvre, 1994, ob cit.
(18) MARX, K. O Capital. ob cit, Livro II, Cap. XIII. pp 7-85. ENGELS, F. A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. 2ª ed. S.Paulo, Ed. Global, 1988. pp. 17-28 e 157 -207.
(19) LIPIETZ, A. Relação Capital-trabalho no limiar do Século XXI. Ensaios FEE, Porto Alegre, 1991. pp 102-130. PASTRÉ, Olivier. O Novo Poder dos Investimentos Institucionais. In: O Mundo Hoje, 1993 - Anuário Econômico e Político Mundial. 2ª ed. S.Paulo, Ed. Ensaio, 1993. pp. 447-449.

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